Fotos: Guilherme Gonçalves/2003
sábado, 30 de junho de 2007
Macunaíma
“Feiúra não é documento”. Talvez a frase que Grande Otelo diz ao ser chamado de “menino feio” por seus parentes soe ironicamente contraditória ao analisarmos a personalidade dos personagens de Macunaíma.
Rodado no final dos anos 60, o filme é uma leitura da obra literária homônima escrita em 1928 por Mário de Andrade. A visão do diretor Joaquim Pedro de Andrade reflete na tela uma interpretação “atualizada” do livro e, por isso, traz elementos que representam o cenário sócio-cultural brasileiro daquela época – e também um pouco do atual, em certos aspectos.
O filme fez parte do movimento do Cinema Novo, que procurava estabelecer uma identidade autoral para a cinematografia brasileira, longe das produções de estúdio e das chanchadas fantasiosas. Curiosamente, foi com um dos maiores representantes da chanchada brasileira, Grande Otelo, que o Cinema Novo conseguiu chegar mais perto de seu objetivo: usar a câmera como instrumento de denúncia e ferramenta intelectual e ser, ao mesmo tempo, um cinema de aceitação popular.
Para conseguir isso, Joaquim Pedro de Andrade contou a história original com o olhar da realidade brasileira das décadas de 60 e 70, quando o país vivia tempos de repressão militar e passava por um momento de crise e indefinição política, econômica, social e cultural. Como a vigência do AI-5 ditava as regras, a forma que o Cinema Novo encontrou para representar a realidade nos filmes foi a alegoria. Neste aspecto, Andrade utiliza com genialidade elementos do folclore brasileiro (as lendas de Curupira e de Iara) e diversos aspectos de nossa cultura (o candomblé, o samba), para satirizar e criticar a sociedade daquele momento de transição.
A principal alegoria percebida no filme reside no próprio protagonista. Macunaíma (na “fase negra”, interpretado por Grande Otelo) é a grande paródia proposta, a grande ironia do diretor, que o apresenta como “herói de nossa gente” no momento em que ele nasce em uma cabana no meio do mato, sendo praticamente defecado pela mãe. A descrição do personagem chama a atenção: “Dormia o dia inteiro, mas acordava para ganhar dinheiro”. Não bastasse sua inerente preguiça, Macunaíma é manhoso e chora para conseguir o quer – mas nem sempre consegue. Quando a família reparte os pedaços de uma anta durante a refeição, Macunaíma fica apenas com as tripas do animal. “Pra você tá muito bom! Come e não discute!”, respondem os irmãos e a mãe do “garoto” à sua reclamação.
Este é o nosso herói, o representante de nossa gente. Quem o governa, o despreza. Mas quando se pensa que Macunaíma se sente subjugado pelo poder, ele se transforma. Ao encontrar uma fonte mágica e se transformar em um homem branco (o ótimo Paulo José), ele brada: “Fiquei branco! Fiquei lindo!”, ao passo que seu irmão negro não consegue passar pela mesma metamorfose. Como resultado, Macunaíma automaticamente torna-se o líder da família, ficando, inclusive, com a mulher do irmão negro. Toca-se aqui no ponto cínico do racismo, que ainda faz parte da sociedade brasileira. O negro, ou o feio, além de ser socialmente menosprezado, se vê em um papel passivo frente à hegemonia branca e a idolatria ao modelo europeu. Feiúra, neste sentido, é documento, sim.
Mas o filme não cessa no racismo sua metralhadora de crítica social. Outro ponto destacado, entre as várias referências feitas pelo diretor, diz respeito ao individualismo e ao espírito capitalista que se apossava da população. Quando Macunaíma chega à cidade grande com seus irmãos, ele se envolve com uma guerrilheira (outra grande ironia, já que é símbolo de rebeldia), com quem passa a morar e dividir uma casa. Enquanto isso, ele deixa os irmãos na rua, sem moradia e comida. Mais tarde, Macunaíma e a guerrilheira têm um filho, a quem ele aconselha: “Cresce depressa pra você ir pra São Paulo ganhar muito dinheiro”. Esse espírito de lucratividade reflete um (anti) herói possessivo, cujos objetivos só tendem a beneficiar a si próprio, nunca aos outros. Assim, introduz-se outra alegoria referente ao cenário político-econômico do Brasil naquela época: o “gigante” Venceslau é a representação da iniciativa privada e extensão da abertura econômica e da internacionalização do capital nacional.
Como Andrade se baseou em uma obra do modernismo, um elemento claramente observado é a antropofagia, que pode ser encarada como um canibalismo não só cultural, mas também social. Os personagens se devoram, tratam-se com violência, e essa apropriação do outro inclui não só uma interiorização das diversas culturas que chegam até a nossa sociedade, como também de todo o seu caráter e seus problemas.
Nosso herói consegue se dar bem graças ao “jeitinho brasileiro”, mas também demonstra inocência ao ser ludibriado por um vendedor de quem compra um pato que, supostamente, bota moedas em vez de ovos. Neste tom constantemente alegórico, Macunaíma rasga todos os podres da sociedade e mostra como o Brasil era (e ainda é) inocente, assim como o protagonista. (Renato Silveira)
terça-feira, 26 de junho de 2007
Pablo Neruda II
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
Isso é tudo. Ao longe alguém canta. Ao longe.
A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
Pablo Neruda
Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
Pablo Neruda
Literatura de Cordel
O nome Literatura de cordel foi dado a estes livretos porque eles são vendidos nas feiras e nas portas de lojas, encarreirados em cordéis e presos por prendedores de roupas. Os poetas, autores dessa literatura, são gente tão simples como as pessoas que compram estes livretos. Sua linguagem é a linguagem do povo, por isso despertam tanto interesse. Eles se referem a Deus e ao Diabo, aos heróis do sertão como Jerônimo e Antônio Conselheiro, aos animais consagrados pelo cultura popular como o boi, a cobra e ouros.
Um dos mais famosos poetas de cordel é Rodolfo Cavalcanti, que já escreveu sobre todos os assuntos, inclusive sobre “Os cabeludos de ontem e os cabeludos de hoje”, com interessante crítica a respeito deste tema. Ele disse que esta literatura começou nos idos de 1910, quando os trovadores foram registrando no papel as pelejas dos cantadores e repentistas e vendendo nas feiras populares. Outros cordelistas famosos são: João José da Silva, Abrão Batista, Manuel Caboclo da Silva, Severino Milanês e muitos outros, que com sua poesia animam a vida da população nordestina.
É difícil calcular a importância da literatura de cordel na existência do nordestino. É muito comum as pessoas se reunirem em torno de alguém que saiba ler, para ouvir e até decorar os versos dos folhetos. É provável que grande parte das informações e conhecimentos chegue ao poço do interior através da literatura de cordel. A imigração nordestina espalhou o interesse por estes folhetos por todo o Brasil.
Além da parte literária, o cordel é interessante pelas figuras que apresenta, feitas em xilogravuras, mostrando toda a ingenuidade da arte popular. Aparecem nas gravuras: monstros, o diabo e os elementos que rodeiam os artesãos do cajá, madeira mole que facilita a execução das figuras. São eles os cantadores, vaqueiros, bois, aves e animais diversos. Surgem também figuras humanas, geralmente relacionadas com o assunto dos folhetos.
O cordel sobreviveu ao radinho de pilha e ao avanço da televisão no agreste. Esse jornal do sertão transmitido de pai a filho, de geração a geração, essa literatura popular fonte de inspiração de um Ariano Suassuna e um Guimarães Rosa, resistiu a tudo e a todos os progressos da tecnologia moderna. O cordel sobrevive até na São Paulo cosmopolita, em Osasco e no ABC, regiões onde existe a maior população nordestina do Brasil, depois do Nordeste.
A literatura de cordel, tanto pela sua parte poética, como pela arte da xilogravura, constitui uma das mais interessantes páginas do folclore brasileiro.
segunda-feira, 25 de junho de 2007
Pablo Neruda
O Poço
Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.
Pablo Neruda (1904 - 1973)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pablo_Neruda
domingo, 24 de junho de 2007
Clássico I
Realmente, os domingos nunca mais foram os mesmos...
Abertura Os Trapalhões 1977 & 1984
Os Trapalhões - Super Heróis
Trips I
Revivendo a história II
Ilha das Flores
Tele-encéfalo desenvolvido e polegar opositor. O que difere os seres humanos dos bichos é justamente o que lhes coloca na mesma condição.
Gênero Documentário, Experimental
Diretor Jorge Furtado
Elenco Ciça Reckziegel
Ano 1989
Duração 13 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil